
foto da fernanda grigolin: (esq. p/ dir.) ana rüsche | maiara gouveia | roberta ferraz
foto da fernanda grigolin: (esq. p/ dir.) ana rüsche | maiara gouveia | roberta ferraz
“Em plena época de fome preparou-me uma belíssima refeição e fez-ma comer, postada à minha frente, confirmou as minhas suspeitas, assistiu, impávida, ao meu esforço para não vomitar, e conseguiu depois, como, já não sei, que eu me apresentasse ao povo como um apreciador de carne de cavalo. O castigo dos deuses não se abateu sobre mim, o povo matou os cavalos, comeu, sobreviveu e nunca mais esqueceu o que Medeia fez. Desde essa altura ela é vista como uma mulher má, porque, como diz Acamante, as pessoas preferem achar que estão enfeitiçadas a confessar a si mesmas que comeram ervas e devoraram as entranhas e animais intocáveis, simplesmente porque tinham fome. Medeia diz que quem obriga as pessoas a tocar no que lhes é sagrado faz delas seus inimigos. É coisa que não suportam. Por isso é que me caluniam, diz. Mas celeiros novos, isso ainda não construíram.” Christa Wolf. Medeia – Vozes.
“Durante a busca desesperada por Perséfone, Deméter é perseguida por Posídon, transformado em cavalo, e é sob a forma desse animal que o deus se une a ela, transformada em jumenta. O fruto dessa união é uma deusa chamada tão somente de ‘Senhora’, pois não se pode pronunciar seu nome, e/ou, conforme outras versões, o cavalo Árion” Em: Deméter e os mitos eleusinos
“É preciso lembrar ainda que a Deméter de Filageia é representada com cabeça de cavalo e que a Erínia, que é bem a imagem de uma Deméter enlutada, disposta a se vingar de tudo e de todos, é mãe de cavalos famosos.” Em: Deméter e os mitos eleusinos
esboço para um ensaio ainda sem título
O mais difícil é enfrentar o caderno de anotações e trazer à tona a atadura de ruídos, uns sons despejados entre as tarefas do cotidiano, cuja imagem é a serpente. Sim, a serpente é justamente a música rastejante que chega até nós das regiões submersas. O barulho quase imperceptível se demora, e ela entorna a si mesma num desenho, um sinal gráfico. Assim revela a imersão do corpo sinuoso no inframundo, enquanto a cabeça, separada do resto, pontua o limite do movimento, interrompe a continuidade completa entre o animal ctônico e o incognoscível.
O ponto de interrogação condensa o processo de metamorfose do signo informe em signo mítico e, por fim, em signo abstrato.
Acabo de reproduzir, abusando da arbitrariedade da linguagem, a situação em que um fato — [experiência de um corpo real] (caótico) — se torna mítico (organização metonímica-metafórica) e depois discurso oficial (cultura). O pré-texto não é um poema, mas sem dúvida é poesia. A partir daqui, escreveria um ensaio sobre o ofício do poeta e a importância desse ofício, mas pretendo falar sobre a construção do feminino e, mais adiante, responder à questão por que medeia?
Enquanto mulher pode ser, simultaneamente, ideia e corpo, o feminino é pura abstração. Só existe baseado no processo de metamorfose pelo qual um signo alcança seu caráter ideal, ou seja: torna-se integrante da textualidade das relações. De elemento mediado pelo mito passa a elemento mediador de crenças instituídas. Em outras palavras: o processo aludido supra é dissimulado pelo signo que o condensa – neste caso, o conceito feminino. Seja como for, a ideia sempre evoca tudo o que arrastou até virar espectro de si mesma.
Nesse caso, criar um painel de representações do feminino e refletir sobre essas representações é reatar a ausência perigosa (espectro equivalente ao conceito), às vértebras subterrâneas, seu sustentáculo, e, em última estância, à carnadura que o expõe como campo devastado por todo o tipo de violação.
O efeminado (mulher, homem ou texto) nasce atrelado à exclusão da vida política (sono, loucura, mutismo etc.); à possessão; à morte simbólica; à redução ao fetiche (ou pura coisa). Banimento e estupro, suicídio e canibalismo, rapto, prole monstruosa ou maternidade terrível: o feminino é o Outro da violência.
É fácil afirmar que o Outro é mais uma abstração. Não se apreende a alteridade. E porque a alteridade é inatingível nunca existirá fora das representações. É propriamente mítica. Poderíamos desviar o texto para a rota do anátema cristão ou para as trilhas originárias da xenofobia. Poderíamos ir a muitos lugares. Mas nos interessa, agora, o Outro da violência. O Outro do sagrado. O Outro da cultura. E esse Outro, metonímia-metáfora de tantos outros igualmente repudiados-adorados, é o feminino — capaz de ocupar o campo simbólico da morte, abstração ontológica.
Há, por exemplo, o registro pictórico de uma luta — primeiro na memória, em seguida no suporte disponível: pedra, paredes da caverna, pele de uma presa anterior etc. — registro mais tarde transformado em transmissão oral, em que o medo, os dramas do embate, as sensações diante do sangue etc. se misturam à narrativa e, mais do que isso, à própria forma do relato.
Antes da linguagem — [experiência de um corpo real] (caótico) — não há diferença nenhuma entre quem sacrifica e quem sofre o sacrifício; a vítima tem o aspecto sedutor projetado pelo desejo-volúpia do “caçador”, o qual pretende obtê-la e usufruir de sua existência convertida em objeto — usufruto e obtenção integrantes da comunicação alucinada que é, afinal, o mito.
Acidente ou caça, homicídio ou combate: o cadáver resultante será o salto à percepção da existência de uma alteridade radical. Do outro absoluto. Não o cadáver em si mesmo, porém o morto pela primeira vez representado, duplicado por algum tipo de consciência: lampejo entre a coisa e o símbolo.
O resto mortal, sem a mediação de uma teia simbólica refinada, é pura coisa. Se o fascínio interfere na relação desse objeto (o cadáver) com o seu observador (homicida ou testemunha da metamorfose/processo de conversão), falamos em fetiche. Na sequência, virá o medo de uma alteridade vingativa e até identificação, responsáveis pela série de cuidados rituais. Não é difícil deduzir que o nascimento da alteridade radical seja o nascimento do(s) deus(es). Mas assim já vamos longe e perdemos o fio da meada.
Importa notar que a ideia da morte resulta do processo abrangendo a violência fortuita ou intencionalmente disparada, a qual transforma corpo em objeto, incluindo todas as etapas da percepção-epifania *.
A noção de feminino, ouso dizer, nascerá de modulações dentro da noção de alteridade. Feminil é o corpo subjugado durante a cópula. Feminil é, portanto, o corpo que pode ser submetido. A criatura feminil, por sua vez, serve como corpo-recipiente e é capaz de se moldar ao crescimento de um ser oculto, escondido sob o ventre, que se expande e de repente se destaca: corpo-miniatura, magicamente se transformando até participar da estrutura social. Veja: há uma distinção entre feminino e fêmea — essa diferença é o rombo infinito a separar corporeidade e abstração.
O desconhecido à espreita detém o princípio das metamorfoses. Indiretamente, mantém a cultura e, se quiser, pode devastar essa conquista fragilíssima a nos separar da animalidade ancestral: a conquista da humanidade. Vincular esse desconhecido ao feminil é imediato (de acordo com o mecanismo de pensamento que relatamos). A associação à alteridade absoluta, por sua vez, é consequência da operação mítica de substituições.
* percepção da alteridade, então substituída pelo fascínio fetichista e finalmente inscrita, por meio de operações de troca simbólica, nos domínios do sagrado.
[continua]
“Pois todos os relatos que chegam até mim e me informam vêm dos homens, convencidos da superioridade de seu sexo (…) Eles têm medo delas e, para se tranquilizarem, eles as desprezam.” Georges Duby, historiador francês, referindo-se ao período medieval
“Parece que os touros de Creta eram selvagens, de uma espécie muito robusta e, antes de serem domesticados, eram evidentemente caçados. No simbolismo dos caçadores, é frequente um dualismo sexual, em que a caça, elemento a ser subjugado pelo caçador, tem conotação feminina, enquanto está sendo perseguida, manipulada e morta pelo homem. A contrapartida ritual é oferecida pela imagem da mulher possuída e às vezes dilacerada pelo animal.” Em: Deméter e os mitos eleusinos
(retirado do Contrabandistas de Peluche especialmente pra vc!)
Minha maior vingança é ter essa aparência completamente inofensiva. Isso parece fala de personagem, mas não é. Não pude estar na Marcha das Vadias e achei fofo que algumas pessoas ligaram da Paulista no “cadê você?”, na certeza absoluta que estaria por lá. Lendo os relatos (abaixo linko dois) e assistindo os vídeos, deu aquele siricutico de fazer um algo, sabe?
Bruna Provazi: Nem putas, nem santas: livres
Todas Nós: SlutWalk SP: um grito diversificado contra o machismo
É que li um e-mail da Srta. Bia, em que constava o “Vai vadiar, vai vadiar”, musiquinha que todo mundo conhece bem. Comecei a cantar e percebi com o costumeiro horror que a letra retratava algo a que estamos horrorosamente acostumados: um homem acusando a mulher de vadia, mais ou menos pq ela não queria um lar – mas você não se acostumou à vida de um lar – o que você quer é vadiar. Fiquei imaginando esse “lar”: o cara chegando do trabalho, exigindo o jantar, abrindo a cerveja e gritando pelo futebol, enfim, as cenas tétricas do cotidiano. Cito minha estrofe predileta:
Quem gosta da orgia
Da noite pro dia
Não pode mudar
Vive outra fantasia
Não vai se acostumar
Eu errei quando tentei
te dar um lar
Você gosta do sereno
E meu mundo é pequeno
Prá lhe segurar
Vai procurar alegria
Fazer moradia na luz do luar
Vai Vadiar!…
Importante perceber que a interpretação é complexa, pois a parte que todo mundo gosta de cantar é o vai-vadiar, o que faz com que o lamento desse eu-lírico não seja compartilhado por quem canta, certo? Não simplifiquemos. E a música acaba assim “vai procurar alegria/ fazer moradia na luz do luar/ vai vadiar!”, meio que num consolo com a situação.
Como muitas vezes sou nutrida pelo sereno e pelas risadas à luz da lua, obviamente alguns mundos são realmente pequenos para mim. Enfim, fiquei com vontade de reescrever a música, não consegui ainda tempo-cabeça (queria ajuda!), mas fiz o pedacinho do refrão (tava fácil, né?).
Uma nanomanifestação de pelúcia.
Quando te escavaram o ventre encontraram traços adormecidos doutros povos
enigmáticos colares, pérolas corroídas, aços imutáveis, escritas duma outra idade, vestígios de insones navegações
da terra sobe um murmúrio de húmido coração
os vermes vão tecendo a recordação dos mortos para que possamos sobreviver ao estrondo da pólvora e da dinamite
as máquinas quase destruíram as torres duma cidade imaginada, submersa, inacessível, que eu suspeito ter sido construída com vento-suão
mas, é o negro ouro que atravessa os teus metálicos intestinos
com ele vais refinando a morte das aves e esquecendo a vida dos peixes
digo, das águas enfurecidas irromperá o desastre
se por qualquer razão te esfaquearem de novo, nada mais encontrarão que pequeníssimos cadáveres de saudade
ouço o resfolegar de remotos náufragos… lembro-me das pedras mortas dos teus pulsos
o peito rasga-se-me, uma lata de óleo trabalha o sangue
no céu terei sempre um pedaço de lua de açúcar, e uma estrela para iluminar teu rosto de árabe antigo
Al Berto, de “Mar-de-Leva (sete textos dedicados à vila de Sines), 1976
Paula Rego em seu ateliê: não temer bruxas e muito menos temer dar o próprio rosto para a evidência de haver bruxas.
Para Maiara Gouveia, Ana Rüsche e Lilian Jacoto
E à prima, Laura Magri
Esse é um relato muito pessoal, mas isso não é uma ressalva: apenas uma maneira de lançar o convite com mais convicção, com mais paixão, com a espera de maior efeito. Um chamado. Já de cara, frente a frente com seus quadros, o que é pinçado no espectador é uma resposta visceral, altamente instintiva. Você se sente remexida e devolve à sensação um olhar de estranhamento, quando não (o que acontece muitas vezes), de repulsa.
Andando pela sala da Pinacoteca do Estado de SP, é comum escutar “isso é horrível”, “extremo mau gosto”, “muito bizarro”, “não dá pra entender isso”. Frases como essa: Olé, Paula! Um amigo dela disse de sua pintura: “pinta para dar uma face ao medo”. Mas se você deixa que o olhar se entregue à trajetória de sua pintura, só lhe restará, ao fim, perguntar: e qual face não é uma face do medo?
Breve biografia: Paula nasceu em Lisboa, em 1935, aquariana. O catálogo da exposição diz que foi filha de pais da ‘alta burguesia’ e que, aos 16 anos, é enviada pelo pai para Inglaterra, após este concluir que “em vista da forte repressão contra mulheres em Portugal, sua filha viveria melhor em um país mais liberal”. É na Inglaterra que ela vai estudar e viver boa parte de sua vida. Mas, olhando para o conteúdo do trabalho de Paula, não dá para não notar que era de Portugal que ela falava, ou a partir de Portugal, de Portugal como uma matriz (a sua) de um contínuo e civilizacional machismo violador de todo e qualquer rosto, sobrando como face, o medo. Paula nasce quando morre Fernando Pessoa. E viu diante de si todo o desenrolar macabro das ‘historinhas’ da ditadura. E mostrou que o silêncio pregado na boca das mulheres, a partir de seu trabalho, este silêncio teria um grito, muito marcado e encardido, menos fantasmagórico como aquele poente de Münch. O grito seria o grito da casa, do cotidiano, dos abusos sexuais. O grito seria a outra face (a do medo) pendente em sangue dentro das felizes fábulas de ninar, contos de fadas que não só servem para que o terror seja suportado, mas também para mascará-lo. Continue lendo
Gosto imensamente de teatro. Embora esteja sumida. O que não significa, necessariamente dizer que estou desatenta. Nossa, preciso com urgência voltar a assitir peças! Foi muito bom ter passado na Roosevelt esses dias pra sentir essa urgência (escutar o Rodolfo dando uma entrevista, isso tudo).
A Kiwi Cia de Teatro, agora nos anos 2010 e 2011, trabalha o projeto Carne – Patriarcado e capitalismo. Até hoje me recordo com clareza de um fevereiro em 2008 quando vi uma cena estarrecedora no palco. Era exibido no telão um comercial a respeito de felicidade e casamento e algum produto doméstico bem conhecido (não me lembro qual era ou mesmo se não era de comer – veja que não me recordo tão bem assim). Quando o comercial acaba, vc se dá conta que quem estava no comercial é a atriz que está na tua frente agora, mais velha, bem dona de si e da própria história em que atua. Aí, finalmente, ela comenta o comercial. Incrível.
Bem, o que tenho hoje é um convite. Para o ciclo de filmes Gênero em Movimento, realizado pela Kiwi em parceria com Ação Educativa e Hip Hop Mulher, com apoio do Centre Audiovisuel Simone de Beauvoir (Paris).
[clique na imagem para aumentar]
De tempos em tempos tentarei trazer alguns links para cá. A rede é profícua em assuntos interessantes. E, se você puxa um fio, vem tudo, vai vendo, vem:
amores
a lua cresce de escorpião para sagitário
entre 8h10 e 14h24
e será cheia, sobre a lua de maiara
Anúncios da Roberta. Hum, publiquei este post no Corpo Estranho e depois notei que a costura do Aronofsky dava pano pra manga por aqui. Prévia para o encontro mais tarde, junto à filha do Oceano e Medeias multiplicadas.
black swan: #anúncios de ensaio. ou: brincando com as pecinhas dos jogos de puzzle. Ainda falaremos de suicídio y otras cositas más.
Sonhei com a parte do prólogo, quando acontece o feitiço
A aparência humana é só um lampejo. Já houve o encantamento. Ab initio, o espetáculo de Tchaikovsky se desdobra na história de outra donzela aspirante ao extraordinário. No jogo especular proposto por Aronofsky, a narrativa também é duplo, estrutura deformada de O Lago dos Cisnes.
Somos lançados dentro do processo alucinado de incorporação artística encenada por Nina e da imagem deformada no espelho: a protagonista não pretende se libertar da forma de cisne; ao contrário, entrega-se, cada vez mais fundo, ao sortilégio. Assumir a possessão (em outras palavras, ser possuidor da possessão) elimina a necessidade de um príncipe e seu amor exclusivo. Nina é a LEDA capaz de tomar pra si a o saber e a força daquele que a violenta – nesse caso, nenhum Zeus em metamorfose, mas o desejo de atingir excelência em sua arte. “Eu só quero ser perfeita” é o fio que nos puxa ao interior do labirinto.
E lá, na espiral de espelhos, o movimento do corpo, o ritmo da música, o branco e o preto alternados se misturam à aquisição de todas as nuanças possíveis da alteridade radical ansiada – e ansiada até rebentar todos os limites. Se Lily tem as asas negras tatuadas nas costas, se Beth vivenciou as faces obscuras do “gêmeo do mal”, Nina deixará a pele ser perfurada com a plumagem noturna e deixará as pernas se arquarem até perder a humanidade que as sustenta. Nina, Lily e Beth – três cifras de duas sílabas: o duplo que antecede a indistinção.
Não existe ninguém nessa história além de Nina. Seu corpo é o lugar de onde assistimos ao balé.
A faceta do cisne branco, identificada à mulher de 28 anos infantil, sob o domínio da ambiguíssima proteção materna, é tão teatral quanto será a do cisne negro. É a primeira máscara acoplada ao rosto, finamente transmutada em aderência. A tese de que o bem e a pureza são maquinais, controlados e desumanos, explicitamente trabalhada num filme como O Olho do Diabo, do Bergman, ressurge nas dobras de inúmeras falas do diretor e professor de dança. “Deixe-se levar”, ele repete.
Quando o artista se entrega à pura experiência de ser, acontece o inesperado, o imprevisto, onde, segundo Eurípedes, “um deus encontra passagem”.
A identificação do duplo monstruoso permite vislumbrar em que clima de alucinação e terror ocorre a experiência religiosa primordial. Quando a histeria violenta encontra-se no auge, o duplo monstruoso aparece em todos os lugares ao mesmo tempo. A violência decisiva vai se dar simultaneamente contra a aparição sumamente maléfica e sob sua égide. Uma calma profunda segue-se à violência furiosa; as alucinações dissipam-se, o repouso é imediato. Isto torna mais misteriosa ainda toda a experiência. Em um breve instante, todos os extremos se tocaram, todas as diferenças se fundiram. Uma violência e uma paz igualmente sobre-humanas pareceram coincidir. Continue lendo